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sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Não despertem o amor de seu sono..., pois ele é um inferno!"

[...] Uma coisa é o amor no sentido do que dá "liga" no convívio de longa duração e outra coisa é o amor romântico (pathos), e os dois não são "parentes".
O amor no sentido de "liga" é cristão: doação, esforço cotidiano, construção de vínculos. O amor romântico é da ordem da tragédia.
Não farei uso de nenhuma pretensa sociologia do amor ou história do beijo. Essa afetação científica não me interessa. A minha descrença nas ciências humanas está além da possibilidade de cura [...].
Tampouco sofro da afetação das neurociências. Aqui, o amor seria apenas uma sopa com mais ou menos serotonina. Pouco me importa qual lado do cérebro acende quando amo. Ambas nos levariam a conclusões do tipo: o amor romântico seria uma invenção a serviço da ideologia burguesa e patriarcal ou alguma miserável conjunção de neurônios, como num tipo de demência senil [...].
Segundo André Capelão (séc. 12) em seu "Tratado do Amor Cortês", o amor é uma doença que acomete o pensamento de uma pessoa e a torna obcecada por outra pessoa, criando um vício incontrolável que busca penetrar em todos os mistérios da pessoa amada: suas formas, seu corpo, seus hábitos.
Trata-se de um anseio desmedido, uma visão perturbada que invade o coração dos infelizes. Tornam-se ineficazes e dispersos. Esses infelizes deliram em abraçar, conversar, beijar e deitar-se com o ser amado, mas jamais conseguem fazê-lo plenamente (por várias razões), e essa impossibilidade é essencial na dinâmica do desejo perturbado. Corpo e alma estremecem anunciando a febre da distância.
O amor romântico é uma doença. Nada tem a ver com felicidade. Por isso sua tendência a destruir o cotidiano, estremecendo-o. [...] Uma pessoa afetada pela paixão não pensa bem [...].
Mas nem todo mundo sofrerá da "maldição de amor", como diziam os medievais. Muita gente morre sem saber o que é essa doença.
Um dos males da época brega em que vivemos é achar que todo mundo seja capaz de amar como se este fora um direito do cidadão. Com a idade e o estrago que o cotidiano faz sobre nossas vidas e suas demandas de acomodação dos afetos (e a instrumentalização a serviço do sucesso material), a tendência é nos tornarmos imunes ao "vírus".
[...] A melhor rota é fugir do amor, porque uma vez ele instalado, a regra é a dor.

"Não despertem o amor de seu sono..., pois ele é um inferno".



Fragmentos do artigo de Luiz Felipe Pondé, publicado
originalmente com o título "Heloísa". 
Texto na íntegra disponível em:
http://www.paulopes.com.br/2010/05/apaixonado-nao-pensa-bem-o-amor.html

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Por que, então, não ser um doente convicto de não se ter curado desta moléstia?
    Conviver com esse mal preciso não é bem ser romantico-incuravél ou tão pouco um masoquismo, mas mostrar-se gostar de algo entre a afeição e a serotonina é manter viva a idéia de que mesmo na "época brega em que vivemos", alguns ainda preferem por não vacinar-se contra o AMOR.

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  3. Se o amor é um doença que acomete o pensamento como então é permitido alimenta-la já que esta num campo onde podemos dominar? Me perdi nesse texto e quase me identifiquei em estar imune a esse tipo de amor porém ele existe em diferentes intensidades e se dividi em partes e pessoas.
    Passa lá tbm...
    http://estigmaangel.blogspot.com/
    Bj e boa semana ;)

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