Estranho cidadão

Era um cidadão estranho aos olhos do “mundo”. Pessoa de poucas palavras, de riso contido e de profundo silêncio. Ninguém sabia muito sobre sua vida, seu passado ou seus sonhos. Conhecia-se a seu respeito apenas seu silêncio e a costumeira expressão de felicidade em seu semblante. Transmitia em seu olhar a paz e a tranquilidade de quem muito já aprendeu com as dores e as alegrias da vida.

Porém, como não podia deixar de ser com tudo aquilo que “foge do comum”, seu silêncio e seu modo de ser eram motivo de grande incômodo. Como alguém poderia viver daquele jeito? Ou pior, como alguém poderia ser feliz sendo daquele jeito? Perguntas que todo mundo se fazia, mas que nunca alguém tivera a coragem de dirigir a ele próprio e que continuavam sem resposta.

Porém, sua vida seguia como tinha de ser, sem a necessidade de se enquadrar naquilo que é o comum e sem a necessidade de ser espalhafatosamente diferente a fim de ser notado. Apenas seguia sua vida, sem se preocupar com o que pensavam a seu respeito e sem querer fazer com que as pessoas fossem do jeito que ele era, pois aprendera a se importar apenas com o que lhe diziam aqueles que o amavam de verdade. Aprendera que feliz não é aquele que está cercado por pessoas perfeitas, que são como gostaríamos que fossem, mas que a riqueza e a felicidade consistem em saber, mais do que conviver, em respeitar e amar o outro na sua diferença. A vida lhe ensinara que “só quem ama de verdade tem disposição de ir além da superfície”.